Boletim de Domingo,14/10/12.
FILHO, PERDOE O PAPAI.
Autor : W. Livingston Larned
Escute,
filho: enquanto falo isso, você está deitado, dormindo, uma mãozinha enfiada
debaixo do seu rosto, os cabelinhos molhados de suor grudados na testa. Entrei
sozinho e sorrateiramente no seu quarto.
Há
minutos atrás, enquanto eu estava sentado lendo meu jornal na sala, fui
assaltado por uma onda sufocante de remorso. E, sentido-me culpado, vim para
ficar ao lado de sua cama. Andei pensado em algumas coisa, filho: Tenho sido
intransigente com você. Na ora em que se trocava para ir à escola, ralhei com
você por ter atirado alguns de seus pertences no chão. Durante o café da manhã,
também impliquei com alguma coisa.
Você derramou o café fora da xícara. Não mastigou a comida. Pôs o cotovelo sobre a mesa. Passou manteiga demais no pão. E quando começou a brincar e eu estava saindo para trabalhar , você se virou, abanou a mão e disse: “Tchau, papai” e, franzindo o cenho, em resposta lhe disse: “Endireite esses ombros!”
De
tardezinha tudo recomeçou. Voltei e quando cheguei perto de casa vi-o
ajoelhado, jogando bolinha de gude. Suas meias estavam rasgadas. Humilhei-o
diante de seus amiguinhos fazendo-o entrar na minha frente: “As meias são caras
– se você as comprasse tomaria mais cuidado com elas!”
Imagine
isso, filho, dito por um pai!
Mais
tarde, quando eu lia meu jornal, lembra-se de como me procurou, timidamente,
uma espécie de mágoa impressa nos seus olhos? Quando afastei meu olhar do
jornal, irritado com a interrupção, você parou à porta: “O que é que você
quer?” perguntei, implacável.
Você
não disse nada, mas saiu correndo num ímpeto na minha direção, passou seus
braços em torno do meu pescoço e me beijou; seus braços foram se apertando com
uma afeição pura que Deus fazia crescer em seu coração e que nenhuma
indiferença conseguiria extirpar. A seguir retirou-se, subindo correndo os
degraus da escada.
Bom, meu filho, não passou
muito tempo e meus dedos se afrouxaram,
o
jornal escorregou por entre eles, e um medo terrível e nauseante tomou conta de
mim. Que estava o hábito fazendo de mim? O hábito de ficar achando erros, de
fazer reprimenda – era dessa maneira que eu o vinha recompensando por ser uma
criança. Não que não o amasse; o fato é que eu esperava demais da juventude. Eu
o avaliava pelos padrões da minha própria vida. E havia tanto de bom, de belo e
de verdadeiro no seu caráter. Seu coraçãozinho era tão grande quanto o sol que
subia por detrás das colinas. E isto eu percebi pelo seu gesto espontâneo de
correr e de dar-me um beijo de boa noite. Nada mais me importa nesta noite,
filho. Entrei na penumbra do seu quarto e ajoelhei-me ao lado de sua cama,
envergonhado!
É uma
expiação inútil; sei, se você estivesse acordado, não compreenderia essa
coisas. Mas amanhã eu serei um pai de verdade! Serei seu amigo, sofrerei quando
você sofrer, rirei quando você rir. Morderei minha língua quando palavras
impacientes quiserem sair pela minha boca. Eu irei dizer e repetir, com se
fosse um ritual: “Ele é apenas um menino – um menininho!”
Receio que o tenha visto
até aqui como um homem feito. Mas, olhando-o agora, filho, encolhido e
amedrontado no seu ninho, certifico-me de que é um bebê. Ainda ontem esteve nos
braços de sua mãe, a cabeça deitado no ombro dela. Exigi
muito
de você, exigi muito.
Meu filho, perdoe o papai.
Deus abençoe a sua vida!
Tenha uma linda semana!!!