Josué
Mello Salgado
Conta-nos uma antiga parábola que, certo dia, um alfinete e uma
agulha encontraram-se numa cesta de costuras. Estando os dois desocupados,
começaram a discutir, porque cada um se considerava melhor e mais importante do
que o outro:
“Afinal, qual é mesmo a sua utilidade?” disse o alfinete para a agulha. “E como pensa você
vencer na vida se não tem cabeça?”
“A sua crítica não tem a menor procedência” respondeu a agulha rispidamente. “Responda-me
agora: de que the serve a cabeça se não tem olho? Não é mais importante poder
ver?” “Ora, e de que lhe vale seu olho se há sempre
um fio impedindo a sua visão?” retrucou o
alfinete.
“Pois
fique sabendo que mesmo tendo um fio atravessando o meu olho, eu ainda posso
fazer muito mais do que você.”
Enquanto
se ocupavam nessa discussão, uma senhora pegou a cesta de costura, desejando
coser um pequeno rasgo no tapete. Enfiou a agulha com linha bem resistente e se
pôs a costurar o mais rápido que pôde. De repente a linha emaranhou-se,
formando uma laçada que dificultou o acabamento da costura. Apressada, a mulher
deu um puxão violento que rompeu o olho da agulha.
Tendo
que ultimar aquele trabalho, ela amarrou a linha na cabeça do alfinete e
conseguiu dar os pontos finais; mas na hora de arrematar, a cabeça do alfinete
se desprendeu. Impaciente com tudo, jogou a agulha e o alfinete na cesta e saiu
resmungando.
Ambos
estavam enganados: o alfinete e a agulha! Nenhum dos dois era insubstituível.
Nenhum dos dois era perfeito. Nenhum dos dois era tão versátil que pudesse
julgar-se com o direito de se considerar melhor do que o outro.
“Porque também o corpo
não é um membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do
corpo; nem por isso deixará de ser do corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não
tenho necessidade de ti.”
Bíblia, Primeira carta aos Coríntios, capítulos 12 e 15.
Bíblia, Primeira carta aos Coríntios, capítulos 12 e 15.